CARTA
PASTORAL DO ANO SANTO DA MISERICÓRDIA
Ao Clero, aos
Religiosos e Religiosas e a todos os Fiéis Leigos da Diocese de Coari, paz e bênçãos no Senhor!
Caríssimos:
O Papa Francisco
proclamou, no dia 13 de março de 2015, o Jubileu
Extraordinário da Misericórdia, o
Ano Santo! A palavra jubileu vem do hebraico “yôbel”, que faz alusão ao
instrumento musical feito do chifre do cordeiro. Jubileu provém também da
palavra latina “ibileum”, que significa “grito de alegria”. O Jubileu era, para
o Povo de Deus da Antiga Aliança, um ano declarado santo que acontecia a cada
50 anos (Lv 25,8-13). Nele eram libertados os escravos e as dividas eram
perdoadas. Pretendia, desse
modo, restituir a igualdade a todos os filhos de
Israel. O Ano Santo tem que ser vivenciado como tempo de graça e de renovação,
como tempo extraordinário para aprofundar a fé e viver com renovado empenho o
testemunho da vida cristã (santidade e missionariedade).
O Ano Jubilar da
Misericórdia abrir-se-á, em Roma, no dia 08 de dezembro de 2015, Solenidade da
Imaculada Conceição, quando
o Papa Francisco abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro. É desejo do Santo Padre que o Jubileu seja vivido, não só
em Roma, mas também nas Dioceses do mundo inteiro. Por
isso, determinou que em todas as dioceses seja realizado um rito semelhante no
Terceiro Domingo do Advento (Gaudete), portanto, 13 de dezembro de 2015. Estabeleceu que, em cada Igreja particular (diocese) se
abra, durante o Ano Santo, uma Porta
Santa – Porta da Misericórdia, em cada uma das Catedrais e em algumas
paróquias ou santuários.
O costume da Porta Santa surgiu baseado nas palavras
do próprio Cristo que disse: “Eu Sou a porta” e “ninguém vai ao Pai senão por
mim” (Jo 10,9); “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Também a este
costume aplicam-se as palavras do salmista: “Esta é a porta do Senhor; por ela
entram apenas os justos” (Sl 118, 20). O rito de abertura e da passagem pela
Porta Santa expressa simbolicamente um caminho extraordinário para a salvação.
A Porta Santa deve ser compreendida como sinal
do profundo desejo de verdadeira conversão. Os fiéis que por ela passarem,
cumprindo as exigências da Igreja, poderão obter indulgências por ocasião do
Ano Santo. A Diocese de Coari, levando em consideração as grandes distâncias
geográficas e o bem espiritual dos fiéis, terá a Porta Santa nas
seguintes Igrejas: Catedral Sant’Ana, em Coari,
Santuário São Francisco, em Anamã e Matriz de Nossa
Senhora de Nazaré, em Manacapuru.
Trata-se do
primeiro Ano Santo que não celebra uma data, mas sim um atributo de Deus: a
Misericórdia. A Bula de proclamação do
Jubileu, Misericordiae Vultus – na nossa língua,O Rosto da Misericórdia –, traz as fundamentações do projeto e o seu percurso. O tema do Ano Santo ”Misericordiosos como o
Pai” é tirado do Evangelho de Lucas (Lc 6,36) onde se fala da misericórdia
e do perdão de Deus, que não tem limites (Lc 6,37-38).
Caríssimos, toda
a História da Salvação mostra a
misericórdia de Deus para conosco! Misericórdia é a palavra que revela o
mistério da Santíssima Trindade.
Deus Pai se revelou a Moisés como “Deus misericordioso e clemente, paciente,
rico em bondade e fiel” (Ex 34,6). Sua misericórdia e bondade prevalecem sobre
o castigo e a destruição. Os Salmos, sobretudo o Salmo 136, falando de Deus nos
lembram, que “sua misericórdia é eterna e o eterno é o seu amor” (MV 6-7).
A misericórdia de
Deus tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus Cristo (MV 8-9). Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do
Pai. Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus através de toda a sua vida,
através das suas atitudes cheias de compaixão e misericórdia. O Mistério Pascal
de Jesus é a prova maior da misericórdia de Deus. Foi Jesus que nos revelou que
“Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Nas parábolas dedicadas à misericórdia,
Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido
enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a
misericórdia. Conhecemos estas parábolas: as da ovelha perdida (Lc 15,4-7), a
da dracma-moeda perdida (Lc 15,8-10), a do pai misericordioso com os seus dois
filhos (Lc 15, 11-32) e a do servo cruel, que perdoado pelo seu patrão não
soube perdoar pouca coisa ao seu companheiro (Mt 18,23-35). Nestas parábolas,
Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas,
encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é
apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com
o perdão. Jesus Cristo colocou a misericórdia como um ideal de vida e como
critério de credibilidade para a nossa fé: “Bem-aventurados - felizes os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).
O Espírito Santo, que conduz os passos
dos fiéis de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo,
seja guia e apoio do povo de Deus a fim de ajudá-lo a contemplar o rosto da
misericórdia (MV 4).
A Igreja católica, fundada por Jesus
Cristo, tem a missão de anunciar a
misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar
ao coração e à mente de cada pessoa. No nosso tempo o tema da misericórdia
exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. A
primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao
perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos
homens. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos
- em suma, onde houver cristãos -, qualquer pessoa deve poder encontrar um
oásis de misericórdia (MV 12).
O Ano Santo da Misericórdia
deve ser vivido como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de
Deus. Precisamos redescobrir o amor misericordioso de Deus no Sacramento da Reconciliação – Confissão.
O pecado é uma ofensa a Deus e um atentado à comunhão com a Igreja. Só Deus
perdoa os pecados, mas Jesus, em virtude de sua autoridade divina, transmite
esse poder aos homens (Igreja) para que o exerçam em seu nome (Jo 20,21-23).
Cristo instituiu o sacramento da Penitencia para todos os membros pecadores de
sua Igreja e lhes oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar
a graça da salvação. Por
isso, ponhamos novamente no centro o Sacramento da Reconciliação que nos
permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. A confissão sacramental
deve ser para cada penitente fonte de verdadeira alegria e de paz interior.
Peço aos nossos presbíteros para que exerçam o ministério da reconciliação
sacramental com zelo, paciência e misericórdia! Nenhum de nós é senhor do
sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Ser confessor significa participar
da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino
que perdoa e salva (MV 17). Os fiéis que vão se confessar precisam saber que
para se confessar validamente precisa cumprir as seguintes condições: 1. O
exame de consciência; 2. A conversão - contrição; 3. A confissão dos pecados;
4. A satisfação das culpas- a penitencia imposta pelo confessor; 5. A
absolvição sacramental dada ou negada pelo confessor. Nas nossas comunidades,
apesar da escassez dos presbíteros, precisamos educar os fiéis a praticar a
pastoral terapêutica da metanoia - conversão. Para facilitar o acesso dos fiéis
ao Sacramento da Reconciliação e aconchego, peço aos nossos presbíteros que
revessem os locais onde confessamos e os horários das confissões devem ser
afixados para a vista dos fiéis. Gostaria de repetir com o apostolo São Paulo:
“Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,20).
O Ano Jubilar
inclui também o referimento às indulgências.
Estas, no Ano Santo da Misericórdia, adquirem uma relevância particular. Para
alcançá-la devermos cumprir as seguintes exigências da Igreja: 1. Confessar-se e arrepender-se dos seus
pecados; 2. Participar da Eucaristia e comungar; 3. Rezar um Creio, um Pai-Nosso,
uma Ave Maria e um Glória; 4. Rezar pelo Santo Padre e pelas intenções que ele
traz no coração; 5. Vivenciar - praticar uma ou mais das obras de misericórdia
corporais e espirituais; 6. Passar pela Porta Santa. A indulgência jubilar
pode ser obtida também para quantos faleceram, para que o rosto misericordioso
do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa (as almas do purgatório) e possa
abraçá-los na beatitude sem fim (o céu). As outras modalidades de receber as
indulgências (doentes, idosos, encarcerados, etc.) se encontram na Carta do
Papa Francisco escrita no dia 01de setembro de 2015 para o Presidente do
Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. A misericórdia de
Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai
que, através da Igreja, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer
resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a
crescer no amor em vez de recair no pecado (MV 22). No Ano Santo teremos a
graça de receber a Indulgência Jubilar.
O perdão de Deus para os
nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo,
Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos
homens. É possível deixar-se
reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por
isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não se cansando de oferecer de
maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do
pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (cf. Mt 5,48), mas sentimos
fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo em que notamos o poder da graça que
nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona.
Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequências
dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que
são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos
nossos comportamentos e pensamentos permanecem.
A misericórdia tem que ser testemunhada e praticada na vida
cotidiana! O Santo Padre nos lembra: “É meu vivo desejo que o povo cristão
reflita, durante o Jubileu, sobre as obras
de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa
consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar
cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da
misericórdia divina. A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de
misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos.
Redescubramos as obras de misericórdia
corporal: 1. Dar de comer aos
famintos;2. Dar de beber aos sedentos; 3. Vestir os nus; 4. Acolher os
peregrinos; 5. Dar assistência aos enfermos; 6. Visitar os presos;7. Enterrar
os mortos. E não esqueçamos as obras
de misericórdia espiritual: 1.
Aconselhar os indecisos; 2. Ensinar os ignorantes; 3. Admoestar os pecadores;
4. Consolar os aflitos; 5. Perdoar as ofensas; 6. Suportar com paciência as
pessoas molestas; 7. Rezar a Deus pelos vivos e defuntos. “No entardecer
desta vida, seremos julgados pelo amor” \São João da Cruz\ (Cf. Mt 25,31-45 e
MV 15).
O Ano Santo da
Misericórdia, conforme o desejo do Santo Padre, terminará na Solenidade
litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de
Novembro de 2016. Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de
tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter
concedido este tempo extraordinário de graça. (MV 5)
Caríssimos,
saibamos vivenciar este Ano Santo da Misericórdia para a nossa santificação,
para a edificação das nossas famílias, para a melhor evangelização nas nossas
Comunidades e para a construção do mundo mais fraterno, mas justo e mais feliz.
Rezemos para que a todos nós, aos fiéis afastados, possa chegar o
bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.
Maria, ícone da
misericórdia de Deus, interceda por nós junto da Santíssima Trindade! Maria
Santíssima, junto com o Papa Francisco, lhe pedimos: “Nunca se canse de volver
para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto
da misericórdia, seu Filho Jesus” (MV 24). Sant’Ana, rogai por nós!
____________________________
+ Dom Marcos Piatek, CSSR
Bispo Diocesano de Coari-AM
29 de Setembro de
2015
1º Domingo do
Advento
Obs. Esta carta deve ser lida em todas as Comunidades da nossa Diocese no
dia 06 de Dezembro de 2015, no 2º Domingo de Advento.
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