Evangelizar no coração do Amazonas: "Sou missionário, sou Povo de Deus; sou índio, caboclo mestiço, fazendo da vida a missão. Aqui nesta grande tapera da Igreja Amazônica sou mensageiro de um Deus que é irmão... Somos filhos da Igreja do Norte, missionários desta região... Aprendemos a ouvir a mensagem de um Deus que nos fala na brisa, nas águas, nas flores, no chão... " (Manoel Nerys, Manacapuru, Diocese de Coari-AM)

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

CARTA PASTORAL DE DOM MARCOS PIATEK SOBRE O ANO SANTO DA MISERICORDIA



CARTA PASTORAL DO ANO SANTO DA MISERICÓRDIA




Ao Clero, aos Religiosos e Religiosas e a todos os Fiéis Leigos da Diocese de Coari, paz e bênçãos no Senhor!

Caríssimos:

O Papa Francisco proclamou, no dia 13 de março de 2015, o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, o Ano Santo! A palavra jubileu vem do hebraico “yôbel”, que faz alusão ao instrumento musical feito do chifre do cordeiro. Jubileu provém também da palavra latina “ibileum”, que significa “grito de alegria”. O Jubileu era, para o Povo de Deus da Antiga Aliança, um ano declarado santo que acontecia a cada 50 anos (Lv 25,8-13). Nele eram libertados os escravos e as dividas eram perdoadas. Pretendia, desse modo, restituir a igualdade a todos os filhos de Israel. O Ano Santo tem que ser vivenciado como tempo de graça e de renovação, como tempo extraordinário para aprofundar a fé e viver com renovado empenho o testemunho da vida cristã (santidade e missionariedade).

O Ano Jubilar da Misericórdia abrir-se-á, em Roma, no dia 08 de dezembro de 2015, Solenidade da Imaculada Conceição, quando o Papa Francisco abrirá a Porta Santa da Basílica de São Pedro. É desejo do Santo Padre que o Jubileu seja vivido, não só em Roma, mas também nas Dioceses do mundo inteiro. Por isso, determinou que em todas as dioceses seja realizado um rito semelhante no Terceiro Domingo do Advento (Gaudete), portanto, 13 de dezembro de 2015. Estabeleceu que, em cada Igreja particular (diocese) se abra, durante o Ano Santo, uma Porta Santa – Porta da Misericórdia, em cada uma das Catedrais e em algumas paróquias ou santuários. 
O costume da Porta Santa surgiu baseado nas palavras do próprio Cristo que disse: “Eu Sou a porta” e “ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 10,9); “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Também a este costume aplicam-se as palavras do salmista: “Esta é a porta do Senhor; por ela entram apenas os justos” (Sl 118, 20). O rito de abertura e da passagem pela Porta Santa expressa simbolicamente um caminho extraordinário para a salvação. A Porta Santa deve ser compreendida como sinal do profundo desejo de verdadeira conversão. Os fiéis que por ela passarem, cumprindo as exigências da Igreja, poderão obter indulgências por ocasião do Ano Santo. A Diocese de Coari, levando em consideração as grandes distâncias geográficas e o bem espiritual dos fiéis, terá a Porta Santa nas seguintes Igrejas: Catedral Sant’Ana, em Coari, Santuário São Francisco, em Anamã e Matriz de Nossa Senhora de Nazaré, em Manacapuru.

Trata-se do primeiro Ano Santo que não celebra uma data, mas sim um atributo de Deus: a Misericórdia. A Bula de proclamação do Jubileu, Misericordiae Vultusna nossa língua,O Rosto da Misericórdia –, traz as fundamentações do projeto e o seu percurso. O tema do Ano Santo ”Misericordiosos como o Pai” é tirado do Evangelho de Lucas (Lc 6,36) onde se fala da misericórdia e do perdão de Deus, que não tem limites (Lc 6,37-38).

Caríssimos, toda a História da Salvação mostra a misericórdia de Deus para conosco! Misericórdia é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Deus Pai se revelou a Moisés como “Deus misericordioso e clemente, paciente, rico em bondade e fiel” (Ex 34,6). Sua misericórdia e bondade prevalecem sobre o castigo e a destruição. Os Salmos, sobretudo o Salmo 136, falando de Deus nos lembram, que “sua misericórdia é eterna e o eterno é o seu amor” (MV 6-7).

A misericórdia de Deus tornou-se viva, visível e atingiu o seu clímax em Jesus Cristo (MV 8-9). Jesus Cristo é o rosto da misericórdia do Pai. Jesus de Nazaré revela a misericórdia de Deus através de toda a sua vida, através das suas atitudes cheias de compaixão e misericórdia. O Mistério Pascal de Jesus é a prova maior da misericórdia de Deus. Foi Jesus que nos revelou que “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).

Nas parábolas dedicadas à misericórdia, Jesus revela a natureza de Deus como a dum Pai que nunca se dá por vencido enquanto não tiver dissolvido o pecado e superada a recusa com a compaixão e a misericórdia. Conhecemos estas parábolas: as da ovelha perdida (Lc 15,4-7), a da dracma-moeda perdida (Lc 15,8-10), a do pai misericordioso com os seus dois filhos (Lc 15, 11-32) e a do servo cruel, que perdoado pelo seu patrão não soube perdoar pouca coisa ao seu companheiro (Mt 18,23-35). Nestas parábolas, Deus é apresentado sempre cheio de alegria, sobretudo quando perdoa. Nelas, encontramos o núcleo do Evangelho e da nossa fé, porque a misericórdia é apresentada como a força que tudo vence, enche o coração de amor e consola com o perdão. Jesus Cristo colocou a misericórdia como um ideal de vida e como critério de credibilidade para a nossa fé: “Bem-aventurados - felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia” (Mt 5,7).

O Espírito Santo, que conduz os passos dos fiéis de forma a cooperarem para a obra de salvação realizada por Cristo, seja guia e apoio do povo de Deus a fim de ajudá-lo a contemplar o rosto da misericórdia (MV 4).

A Igreja católica, fundada por Jesus Cristo, tem a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho, que por meio dela deve chegar ao coração e à mente de cada pessoa. No nosso tempo o tema da misericórdia exige ser reproposto com novo entusiasmo e uma ação pastoral renovada. A primeira verdade da Igreja é o amor de Cristo. E, deste amor que vai até ao perdão e ao dom de si mesmo, a Igreja faz-se serva e mediadora junto dos homens. Nas nossas paróquias, nas comunidades, nas associações e nos movimentos - em suma, onde houver cristãos -, qualquer pessoa deve poder encontrar um oásis de misericórdia (MV 12).

O Ano Santo da Misericórdia deve ser vivido como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus. Precisamos redescobrir o amor misericordioso de Deus no Sacramento da Reconciliação – Confissão. O pecado é uma ofensa a Deus e um atentado à comunhão com a Igreja. Só Deus perdoa os pecados, mas Jesus, em virtude de sua autoridade divina, transmite esse poder aos homens (Igreja) para que o exerçam em seu nome (Jo 20,21-23). Cristo instituiu o sacramento da Penitencia para todos os membros pecadores de sua Igreja e lhes oferece uma nova possibilidade de converter-se e de recobrar a graça da salvação. Por isso, ponhamos novamente no centro o Sacramento da Reconciliação que nos permite tocar sensivelmente a grandeza da misericórdia. A confissão sacramental deve ser para cada penitente fonte de verdadeira alegria e de paz interior. Peço aos nossos presbíteros para que exerçam o ministério da reconciliação sacramental com zelo, paciência e misericórdia! Nenhum de nós é senhor do sacramento, mas apenas servo fiel do perdão de Deus. Ser confessor significa participar da mesma missão de Jesus e ser sinal concreto da continuidade de um amor divino que perdoa e salva (MV 17). Os fiéis que vão se confessar precisam saber que para se confessar validamente precisa cumprir as seguintes condições: 1. O exame de consciência; 2. A conversão - contrição; 3. A confissão dos pecados; 4. A satisfação das culpas- a penitencia imposta pelo confessor; 5. A absolvição sacramental dada ou negada pelo confessor. Nas nossas comunidades, apesar da escassez dos presbíteros, precisamos educar os fiéis a praticar a pastoral terapêutica da metanoia - conversão. Para facilitar o acesso dos fiéis ao Sacramento da Reconciliação e aconchego, peço aos nossos presbíteros que revessem os locais onde confessamos e os horários das confissões devem ser afixados para a vista dos fiéis. Gostaria de repetir com o apostolo São Paulo: “Em nome de Cristo, vos suplicamos: reconciliai-vos com Deus” (2 Cor 5,20).

O Ano Jubilar inclui também o referimento às indulgências. Estas, no Ano Santo da Misericórdia, adquirem uma relevância particular. Para alcançá-la devermos cumprir as seguintes exigências da Igreja: 1. Confessar-se e arrepender-se dos seus pecados; 2. Participar da Eucaristia e comungar; 3. Rezar um Creio, um Pai-Nosso, uma Ave Maria e um Glória; 4. Rezar pelo Santo Padre e pelas intenções que ele traz no coração; 5. Vivenciar - praticar uma ou mais das obras de misericórdia corporais e espirituais; 6. Passar pela Porta Santa. A indulgência jubilar pode ser obtida também para quantos faleceram, para que o rosto misericordioso do Pai os liberte de qualquer resíduo de culpa (as almas do purgatório) e possa abraçá-los na beatitude sem fim (o céu). As outras modalidades de receber as indulgências (doentes, idosos, encarcerados, etc.) se encontram na Carta do Papa Francisco escrita no dia 01de setembro de 2015 para o Presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Nova Evangelização. A misericórdia de Deus, porém, é mais forte também do que isso. Ela torna-se indulgência do Pai que, através da Igreja, alcança o pecador perdoado e liberta-o de qualquer resíduo das consequências do pecado, habilitando-o a agir com caridade, a crescer no amor em vez de recair no pecado (MV 22). No Ano Santo teremos a graça de receber a Indulgência Jubilar.

O perdão de Deus para os nossos pecados não conhece limites. Na morte e ressurreição de Jesus Cristo, Deus torna evidente este seu amor que chega ao ponto de destruir o pecado dos homens. É possível deixar-se reconciliar com Deus através do mistério pascal e da mediação da Igreja. Por isso, Deus está sempre disponível para o perdão, não se cansando de oferecer de maneira sempre nova e inesperada. No entanto todos nós fazemos experiência do pecado. Sabemos que somos chamados à perfeição (cf. Mt 5,48), mas sentimos fortemente o peso do pecado. Ao mesmo tempo em que notamos o poder da graça que nos transforma, experimentamos também a força do pecado que nos condiciona. Apesar do perdão, carregamos na nossa vida as contradições que são consequências dos nossos pecados. No sacramento da Reconciliação, Deus perdoa os pecados, que são verdadeiramente apagados; mas o cunho negativo que os pecados deixaram nos nossos comportamentos e pensamentos permanecem.

A misericórdia tem que ser testemunhada e praticada na vida cotidiana! O Santo Padre nos lembra: “É meu vivo desejo que o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina. A pregação de Jesus apresenta-nos estas obras de misericórdia, para podermos perceber se vivemos ou não como seus discípulos. Redescubramos as obras de misericórdia corporal: 1. Dar de comer aos famintos;2. Dar de beber aos sedentos; 3. Vestir os nus; 4. Acolher os peregrinos; 5. Dar assistência aos enfermos; 6. Visitar os presos;7. Enterrar os mortos. E não esqueçamos as obras de misericórdia espiritual: 1. Aconselhar os indecisos; 2. Ensinar os ignorantes; 3. Admoestar os pecadores; 4. Consolar os aflitos; 5. Perdoar as ofensas; 6. Suportar com paciência as pessoas molestas; 7. Rezar a Deus pelos vivos e defuntos. “No entardecer desta vida, seremos julgados pelo amor” \São João da Cruz\ (Cf. Mt 25,31-45 e MV 15).

O Ano Santo da Misericórdia, conforme o desejo do Santo Padre, terminará na Solenidade litúrgica de Jesus Cristo, Rei do Universo, no dia 20 de Novembro de 2016. Naquele dia, ao fechar a Porta Santa, animar-nos-ão, antes de tudo, sentimentos de gratidão e agradecimento à Santíssima Trindade por nos ter concedido este tempo extraordinário de graça. (MV 5)

Caríssimos, saibamos vivenciar este Ano Santo da Misericórdia para a nossa santificação, para a edificação das nossas famílias, para a melhor evangelização nas nossas Comunidades e para a construção do mundo mais fraterno, mas justo e mais feliz. Rezemos para que a todos nós, aos fiéis afastados, possa chegar o bálsamo da misericórdia como sinal do Reino de Deus já presente no meio de nós.

Maria, ícone da misericórdia de Deus, interceda por nós junto da Santíssima Trindade! Maria Santíssima, junto com o Papa Francisco, lhe pedimos: “Nunca se canse de volver para nós os seus olhos misericordiosos e nos faça dignos de contemplar o rosto da misericórdia, seu Filho Jesus” (MV 24). Sant’Ana, rogai por nós!
 
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+ Dom Marcos Piatek, CSSR
Bispo Diocesano de Coari-AM


29 de Setembro de 2015
1º Domingo do Advento

Obs. Esta carta deve ser lida em todas as Comunidades da nossa Diocese no dia 06 de Dezembro de 2015, no 2º Domingo de Advento.

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